… o segredo das Grandes Histórias é elas não terem segredo nenhum. As Grandes Histórias são aquelas que já ouvimos e queremos voltar a ouvir. Aquelas onde podemos entrar e morar confortavelmente. Que não nos enganam com calafrios e finais acrobáticos. Que não nos surpreendem com o imprevisto. Que são tão familiares como a casa onde moramos. Ou o cheiro da pele de um amante. Sabemos como acabam, porém ouvimo-las como senão soubéssemos. Tal como, embora sabendo que um dia havemos de morrer, vivemos como se não o soubéssemos. Nas Grandes Histórias sabemos quem vive, quem morre, quem encontra o amor e quem não encontra. E, contudo, queremos saber de novo.
Por tudo isto, e muito mais que não é para aqui chamado, decidi reler “O Deus das Pequenas Coisas”(1997) - o primeiro romance de Arundhaty Roy, vencedor do Booker Prize - antes de ler “O Ministério da Felicidade Suprema”, publicado em 2017.
Vinte anos separam os dois romances. O que terá mudado na prosa mística e luminosa da indiana que cursou arquitectura e abandonou a ficção para se dedicar ao ensaio e à intervenção política?
Estou curiosíssima!
“O Deus das Pequenas Coisas” conta a história de três gerações de uma família do sul da Índia, que se dispersa por todo o mundo e se reencontra na terra natal. Uma história apaixonante, moralmente intensa, feita de pequenas histórias vividas por personagens inesquecíveis - os gémeos Rahel e Estha, a mãe Ammu, a avó Mammachi, o avô Pappachi, o tio Chacko, o misterioso Velutha... - numa época conturbada onde “só as pequenas coisas são ditas e as grandes coisas permanecem por dizer”, onde tudo pode acontecer a todos, onde tudo pode mudar num dia.
Se ainda não leu este arrebatador romance... LEIA!
O Deus das pequenas coisas, de Arundhati Roy
Tradução de Teresa Casal
Ed. ASA, 1998
301 págs.